sexta-feira, 3 de julho de 2009

Bem-vindo ao agora! parte 2‏

Utilizar técnicas de atenção plena para aceitar o presente e para vivê-lo de forma intensa pode ajudar a controlar o stress e modificar comportamentos inadequados, harmonizando pensamentos e sentimentos
BIOLOGIA QUE AGRADA A BUDA Tanto as pesquisas sobre as bases neurológicas da experiência mística como os estudos sobre a genética das religiões interessam principalmente aos seguidores das religiões orientais, em particular do hinduísmo e do budismo, porque combinam com suas concepções filosóficas. Tanto que o líder do budismo tibetano, o Dalai Lama, criou e financiou o Mind and Life Institute um centro de pesquisa que tem como objetivo estudar o cérebro durante a meditação e as experiências místicas. Também a idéia da existência de um gene da espiritualidade agrada aos budistas, cuja teoria da reencarnação prevê que se possa receber uma pequena herança espiritual da pessoa que se era na vida precedente. Segundo a crença, esse elemento, combinado com dois grandes genes herdados dos pais, contribui para criar o perfil físico e espiritual do novo ser humano. ALTERAÇÕES NO CÉREBRO DURANTE A MEDITAÇÃO Nos últimos anos, exames feitos com procedimentos por imagem revelaram o que acontece na cabeça das pessoas quando estão meditando e quanto esforço cerebral é necessário para que consigamos atingir um estado de introspecção. A atividade de algumas regiões do cérebro pode ser facilmente compreendida com base em pressupostos fundamentais. Em primeiro lugar, o meditador precisa focar sua atenção em um ponto determinado. Essa atividade é realizada por uma parte do córtex pré-frontal, localizado no cérebro frontal. Por outro lado, estímulos externos perturbadores precisam ser “desligados”. Isso é providenciado pelo córtex cingular anterior (CCA).
Essa área cerebral também participa de outros processos cognitivos, por exemplo, quando as pessoas passam pelo teste de Stroop: elas têm de dizer em voz alta a cor das letras que são mostradas em um monitor; a palavra, porém, significa outra cor (ver quadro abaixo). Para se conseguir diante da palavra “vermelho” (grafada em verde) dizer realmente “verde” – e não “vermelho” – o que está escrito deve ser ignorado. Isso é muito difícil no começo, porém, após um pouco de treino, o CCA simplesmente desliga o estímulo perturbador.
Em um estudo realizado na Escola Médica de Harvard, em 2000, a pesquisadora Sara Lazar descobriu por meio da tomografia funcional por ressonância magnética (TfRM) outras áreas do cérebro que desempenham algum papel durante a meditação. Ela percebeu que havia elevada atividade não só nas regiões do córtex pré-frontal e do cingular anterior, mas também no córtex parietal, no hipocampo e no corpo estriado (striatum), que é parte dos gânglios basais.
Além disso, neurologistas do Hospital Geral de Massachusetts mostraram em 2005 que a meditação regular provoca alterações no cerebelo – justamente nas partes do córtex cerebelar que participam da percepção e dos processos emocionais.
Resultados dos estudos do neurocientista americano Richard Davidson, diretor do Laboratório de Neurociência Afetiva da Universidade de Wisconsin, em Madison, também causaram admiração há pouco tempo. O estudioso das emoções, colaborador do Dalai Lama desde 1992, examinou a atividade cerebral de monges tibetanos enquanto eles meditavam. O seu gráfico de atividades neuronais indicava não apenas um estado de intensiva concentração, como já era de esperar – mas também alterações perceptíveis no lobo frontal, importante para o controle das ações.
Foi constatado que monges experientes apresentaram grande atividade no córtex frontal esquerdo. Testes do tipo antes-e-depois feitos com novatos em meditação que haviam concluído o programa anti-stress de Kabat-Zinn confirmaram: em comparação com o lobo frontal direito das pessoas testadas, o esquerdo se tornava gradualmente mais ativo durante períodos cada vez mais longos. Se essa transferência está relacionada ao “efeito de bem-estar” relatado pelo praticante, porém, ainda é uma questão polêmica.
PARA ESCUTAR MELHOR O PACIENTE © SHUTTLECOCK/DREAMSTIME De acordo com a teoria psicanalítica, cabe ao paciente seguir a chamada regra de ouro proposta por Freud: a associação livre, ou seja, dizer ao terapeuta, durante a sessão, tudo o que lhe vier à mente. Ao analista corresponde a atenção flutuante – uma escuta sem julgamentos, como se “flutuasse” no discurso do analisando. Para o psicanalista Ignácio Gerber, membro e professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, praticante de meditação taoísta, essa postura guarda paralelos com a prática meditativa, na qual se procura aprofundar a consciência sem se prender a nada específico, mantendo-se efetivamente presente. Talvez por causa dessa proximidade, cada vez mais psicólogos, psicanalistas e outros profissionais da área da saúde vêm buscando conhecer técnicas de concentração e meditação com o objetivo de aprimorar a capacidade de escutar aqueles que buscam seus serviços. “Não podemos supor uma relação de causa e efeito ou simplificar dois campos de conhecimento tão vastos, mas sem dúvida podemos falar em interfaces entre meditação e psicanálise”, afirma a psicóloga e pesquisadora Márcia Finke

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